Células estaminais: Falta de legislação limita investigação

12.º Ano BIOLOGIA - II. Património Genético

Células estaminais: Falta de legislação limita investigação


A investigação de células estaminais de embriões humanos está dependente, em Portugal, de legislação específica, actualmente em discussão pública, mas também de investimentos avultados na criação de um laboratório, afirmaram hoje especialistas naquela área científica.
«Não trabalhamos na área embrionária humana em Portugal porque se iniciássemos uma qualquer investigação ela podia ser proibida daqui a três meses, por não haver legislação» disse hoje à agência Lusa o presidente da Sociedade Portuguesa de Células Estaminais e Terapia Celular (SPCE-TC), Rui Reis.

Considerando que no nosso país, ao contrário de outras áreas ligadas às células estaminais, «nada está feito» na de embriões humanos, o investigador da Universidade do Minho (UM) frisou que os trabalhos que envolvem especialistas portugueses «têm de ser feitos no exterior», nomeadamente em Inglaterra.

Rui Reis esclareceu que é precisa uma nova lei «tanto para a investigação como para eventuais aplicações clínicas».

«Ninguém vai investigar sem saber o que pode ou não fazer», resumiu.

Um projecto-lei sobre esta matéria está actualmente a ser apreciado na especialidade na Assembleia da República, estando a decorrer a discussão pública, que envolve a Comissão Parlamentar de Saúde e investigadores.

«Já nos pronunciámos por escrito, concordámos com a maior parte [do projecto-lei], esperamos que seja votado ainda antes das férias parlamentares para sabermos o que se pode ou não fazer», disse Rui Reis.

No entanto, aludiu a uma audição a ter lugar terça-feira, na cidade do Porto, criticando a data escolhida, por coincidir com a conferência internacional que reúne, em Cantanhede, vários especialistas mundiais na área das células estaminais.

Um dos especialistas presentes na conferência - o português Lino Ferreira, investigador do norte-americano MIT (Massachusetts Institute of Technology) - defendeu, por seu turno, a necessidade de um «investimento sério» na estratégia de apoio à investigação científica naquela área em Portugal.

«Para se fazer investigação séria tem de haver investimento, não há conhecimento sem investimento», disse Lino Ferreira.

Afirmando que a área dos embriões humanos, que leva nove anos de existência, «é muito competitiva» a nível mundial, classificou-a de «dispendiosa por natureza».

Em países com os EUA, Inglaterra e Israel, entre outros, o financiamento surge, muitas vezes, através de parcerias público-privadas, modelo que Lino Ferreira gostaria de ver aplicado no nosso país.

«No MIT existem empresas a trabalhar em parcerias com a investigação, algumas até de outras áreas mas que querem diversificar os seus produto», explicou.

Questionado sobre a possibilidade do investimento na investigação existir ainda sem uma lei aprovada no nosso país, o especialista defendeu-a «para apontar um caminho».

«Ajudaria bastante. Portugal está a passar aquilo pelo qual outros países, como a França, já passaram. Há alguma indefinição política sobre o que faze», sustentou Lino Ferreira.

Já o presidente da SPCE-TC frisou que a investigação na área das células estaminais a partir de embriões humanos «não tem nenhum motivo para não ser apoiada» pelas entidades oficiais, após a regulamentação.

Lino Ferreira e Rui Reis integram um painel de especialistas mundiais em células estaminais que terça-feira discute, em Cantanhede, perante cerca de 300 profissionais de saúde e investigadores, o momento actual, últimos avanços e respectivas aplicações da investigação naquela área científica.

O debate, que se realiza no Biocant Park, é promovido, entre outras entidades, pela SPCE-TC e pela Crioestaminal, a empresa de criopreservação de células estaminais, inaugurada em Julho de 2003, que possui actualmente cerca de 15 mil amostras retiradas do sangue do cordão umbilical de recém-nascidos.


Diário Digital
09-07-2007

Segunda Jul 09, 2007 20:59 / netxplica.com

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