Ovário estimulado in vitro faz mulher infértil engravidar

12.º Ano BIOLOGIA - I. Manipulação da Fertilidade

Tecido do ovário estimulado in vitro permite a mulher infértil ter um filho
01.10.2013 - PÚBLICO.PT | Nicolau Ferreira

dr

O espermatozóide no momento em que penetra no ovócito, para o fecundar

Nova técnica utiliza fragmentos de tecido dos ovários e induz neles o desenvolvimento de ovócitos. Duas mulheres com menopausa prematura já engravidaram graças a esta técnica e uma delas teve um menino

A menopausa prematura acontece quando mulheres com menos de 40 anos deixam de ovular. Os ovários deixam de amadurecer novos ovócitos, o que causa infertilidade. Para estas mulheres, uma das alternativas é recorrerem a ovócitos de dadoras. Uma nova técnica pode alterar este panorama: um grupo de investigadores do Japão e dos Estados Unidos conseguiu estimular in vitro tecido ovárico de mulheres com insuficiência primária dos ovários. O tecido produziu ovócitos maduros, que, depois de fecundados in vitro, permitiram a duas mulheres engravidarem. Uma delas já teve o filho, conta-se num artigo publicado ontem na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), dos EUA. É a prova de sucesso de uma técnica que terá, agora, de ser aperfeiçoada para chegar a mais mulheres com este problema.

Ao nascerem, as mulheres têm cerca de 800.000 ovócitos imaturos. No início da adolescência, começa a maturação mensal de uma destas células. De 28 em 28 dias dá-se a ovulação - este é um período médio, já que é a fisiologia de cada pessoa a determinar este ritmo. Assim, um ovócito liberta-se do ovário para poder ser fecundado por um espermatozóide. Este ciclo vai prosseguindo até à menopausa, que geralmente ocorre entre os 45 e os 55 anos.

Cerca de 1% das mulheres, de acordo com o artigo da PNAS, têm insuficiência primária dos ovários: há uma paragem precoce deste ciclo e os ovócitos deixam de amadurecer. Ainda não se sabe o que causa a paragem. Os médicos detectam uma ausência de ovulação durante mais de quatro meses, acompanhada por uma subida da concentração da hormona folículo-estimulante (FSH, na sigla em inglês) para um nível igual ao das mulheres em menopausa. A FSH é importante para regular o ciclo menstrual feminino. A partir de uma certa idade, o seu nível começa a subir, determinando a menopausa e o fim do período fértil feminino.

Cinco a 10% das mulheres diagnosticadas com insuficiência primária dos ovários concebem um filho sem fazerem nenhum tratamento. "A sua única hipótese de engravidar é com ovócitos doados", escreve Kazuhiro Kawamura, da Universidade de Santa Mariana, em Kawasaki, no Japão, autor do artigo.

Mas a equipa tentou uma nova abordagem com 27 mulheres com este problema. As doentes tinham em média 37 anos e há quase sete anos que tinham deixado de produzir ovócitos. Os cientistas começaram por lhes retirar os dois ovários e cortaram-nos em fragmentos.

Treze das 27 mulheres tinham ainda ovócitos imaturos com potencial para se desenvolverem. Por isso, nessas mulheres, a equipa bloqueou, no tecido ovárico, uma via de sinalização celular chamada Hippo. Esta via é importante para travar o crescimento dos órgãos, para ficarem com o tamanho apropriado no corpo. Mas no ovário a via Hippo determina a paragem do amadurecimento dos ovócitos. Depois, a equipa bloqueou outra via celular também conhecida por travar o amadurecimento destas células. Quando o fizeram, conseguiram "acordar" alguns ovócitos imaturos.

Em seguida, introduziram os fragmentos do ovário na camada interior da trompa de Falópio das doentes. Em oito delas, os ovócitos continuaram a desenvolver-se num folículo importante para a ovulação. A equipa administrou então hormonas às oito mulheres para estimular a ovulação. Em cinco, os fragmentos de ovário implantados na trompa de Falópio ovularam. Recolhidos os ovócitos, foi feita a fecundação in vitro com os espermatozóides dos companheiros das doentes, para em seguida implantar os embriões em três mulheres. Uma não conseguiu engravidar, mas as outras duas engravidaram, segundo o artigo, e uma já teve um menino saudável ao fim de uma gestação de 37 semanas.

Ainda vai demorar alguns anos até esta nova técnica, a que os cientistas chamaram "activação in vitro do ovário", se tornar rotineira.

Terça Oct 01, 2013 19:34 / netxplica.com

• Página 1 de 1