Estudo nacional explica resistência aos antibióticos

12.º Ano BIOLOGIA - III. Imunidade e Controlo de Doenças

Estudo nacional explica resistência aos antibióticos


Investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) demonstraram pela primeira vez a importância de interacções entre genes que determinam a resistência das bactérias aos antibióticos, num estudo hoje publicado na revista científica norte-americana PLoS Genetics.
O trabalho desta equipa, dirigida por Isabel Gordo, tem implicações directas na evolução de bactérias multi-resistentes e na escolha do tipo de antibióticos a administrar, nomeadamente no caso da tuberculose multi-resistente.

O estudo, embora feito com outras bactérias (Escherichia coli), "analisou o mesmo tipo de resistência que se encontra na tuberculose multi-resistente", disse à Agência Lusa a investigadora principal do grupo de Biologia Evolutiva do IGC.

As bactérias adquirem resistências aos antibióticos através de mutações no seu genoma, mas se por um lado essas resistências são cruciais para a sobrevivência das bactérias, na ausência de antibióticos a taxa de crescimento das bactérias resistentes diminui.

Assim, embora não se possa impedir que as bactérias evoluam, a escolha dos antibióticos adequados pode alterar o curso dessa evolução a favor do hospedeiro humano.

As conclusões da investigação destacam a importância de conhecer os efeitos das múltiplas resistências, de modo a encontrar as combinações de antibióticos que impliquem um maior custo para as bactérias.

Os investigadores estudaram bactérias com mutações genéticas que lhes conferem resistência aos antibióticos mais usados e conseguiram medir as interacções entre os genes mutados.

Do ponto de vista da saúde pública, este estudo pode explicar a prevalência de resistências múltiplas noutro tipo de bactérias que estão na origem de doenças como a tuberculose, cujo tratamento envolve o uso de drogas semelhantes às utilizadas neste estudo.

"O que nós observámos foi que quando se adiciona mais do que uma resistência a taxa de crescimento das bactérias não fica tão pequena quanto à partida se esperava, o que significa que uma bactéria multi-resistente vai crescer mais depressa do que seria desejável para os humanos", explicou.

Esta constatação leva a prever que as combinações de resistências com menos custo para as bactérias vão ser cada vez mais frequentes nesses microrganismos e isso mesmo será testado na próxima etapa do trabalho desta equipa.

"É uma previsão que se pode testar coleccionando dados da tuberculose em populações naturais, em Portugal ou no resto do mundo, e esse é um trabalho que estamos a planear fazer no futuro, para tentar perceber exactamente como é que os resultados se podem comparar no laboratório com os resultados naturais na tuberculose", afirmou a principal autora do estudo.

Na sua perspectiva, o que seria desejável perante estes resultados era estudar todo o tipo de combinações de resistências, todo o tipo de antibióticos e todos os tipos de alterações genéticas associadas a resistências de antibióticos, fazer todas as combinações possíveis, e tentar encontrar os antibióticos cujas resistências dão maior custo às bactérias.

"Essa é uma investigação que precisa de ser feita porque neste primeiro estudo que fizemos não encontrámos nenhuma combinação de antibióticos que causasse um custo muito grande", assinalou.

O estudo agora publicado envolveu a equipa de Biologia Evolutiva de Isabel Gordo e o laboratório de Microbiologia do IGC que estuda comunicação entre bactérias, liderado por Karina Xavier.


Diário Digital / Lusa
24.07.2009

Segunda Jul 27, 2009 18:45 / netxplica.com

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